segunda-feira, 13 de junho de 2011

Papo Tarja Preta

Existem assuntos "tarja preta" que estão em alta em todos os espaços sociais por onde ando. Quando é revelado que trabalho na área, então, a coisa fica preta. Todo mundo acaba querendo tirar uma casquinha com alguma pergunta ou parecer sobre alguma patologia ou exame, tem um outro grupo - cara de madeira - que ficam se coçando até tomar coragem e sacar subitamente da bolsa um monte de papéis amarelados e vêm com aquele papo furado no meio da melhor música ou no melhor do papo ( quando o chopp chega gélido e o papo tá animadíssimo) e sem delongas manda assim: "Eu sei que o local é meio inapropriado, mas se você puder dá uma olhadinha nesses 5.000 exames e pareceres e me diz o que você acha", é hilário... Também é hilário você recusar a tal olhadinha, ainda mais quando a pessoa em questão é amiga da prima do seu(sua) melhor amigo(a).

Mas de qualquer maneira, são nesses encontros que comprovo o quanto esses temas mais delicados da sexualidade (sexo anal, sexo ménage, troca de casais, masturbação, disfunções sexuais, homoafetividade e tantos outros) estão em alta nas bolsas e nas bocas, ou melhor, nos pensamentos das multidões. Acho que a transgressão enfim tomou conta do imaginário e transborda pelas bocas e pelas ruas meio sem rumo, querendo um "green card"; uma aprovação. claro que isso tudo fica à meia boca, nada de exposição pública dos fatos, isso não é nada "cult", faz mal ou engorda sua sacola de promiscuidades. A coisa fica meio que restrita a um "papo grupinho", meio que fala mansa, baixinho, sem muita escandalização de sentimentos.

Independente dos motivadores é bem interessante fazer parte dessas transformações sócio-comportamentais e ter a oportunidade de vivenciar em cada indivíduo, através do corpo (o corpo fala), dos gestos, do olhar, das múltiplas transformações que ocorrem quando da abordagem desse "papo tarja preta". As pessoas vão mudando no todo, no tom da voz, no pré-requisito natural; a pergunta ou dúvida é sempre para um amigo, primo, prima ou alguém fez um comentário e ele(a) resolveu procurar um profissional da área para sanar as dúvidas, tudo no social é claro, nada de consulta marcada para orientação sexual, é tudo no 0800.

A voz do povo é a voz de Deus, diz o ditado popular, então estamos vivendo um momento ímpar no processo de transmutação do lúdico/fantasia para o possível concreto/realidade e, o mais importante, isso está sendo revelado. É aí que eu entro, é a partir dessa revelação acanhada, mas sincera que a gente pega carona e descobre a "senha do cofre"; pronto o caminho está aberto e podemos passear na terra de ninguém, melhor, na terra da fantasia ou melhor ainda na terra dos desejos sexuais, das fantasias sexuais do sujeito ou da sujeita em questão. Nesse ponto o sujeito(a) fica sem defesas, sem barreiras, agora é mais fácil saber onde ele(a) quer chegar, e isso, faz bem à todos; é sempre interessante se saber onde se quer chegar.

Agora o papo flui... Ninguém está mais de saia justa, isso lembra a semelhança daquela garota que adentra ao motel com o sujeito, toda acanhada, cheia de dúvidas e arrependimentos, sainha justa completa. Já dentro do quarto, nem sabe onde sentar ou o que fazer, fica paradinha, estática, muda, meio que apavorada. Indo direto ao ponto, alguns minutos depois, quando já despida e na piscina, relaxa e solta as emoções, fala muito, faz muito, pede muito... Assim, retomando o assunto, os interessados no tal "grupinho" agora estão soltinhos, falam de tudo, perguntam tudo, têm opinião formada sobre quase tudo e, o pior, sobre quase todos...

Na verdade todas as dúvidas devem ser esclarecidas e assim, de posse do tal green card, a galera vai se dissipando, cada um procurando o seu rumo certo na festa, seus pares, suas famílias... Tudo parece voltar ao normal, cada um saciado e/ou aliviado dessa suposta culpa de sentimentos proibidos. E o período de resolução, que aqui não é o sono e nem a preguiça, nem tampouco o amolecimento crucial do momento, ao contrário, estamos excitados demais para estasiar nossas emoções. Minha pesquisa tem dado frutos, as coisas estão começando a acontecer e, de qualquer maneira, a festa não estava lá essas coisas.

Moral da Festa: Entre a fantasia e o concreto existem ainda alguns semáforos; se beber não dirija!!!

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