sábado, 11 de junho de 2011

HISTERECTOMIA E PRAZER SEXUAL - II


A histerectomia é um procedimento cirúrgico onde o útero é retirado por técnica pré-estabelecida pelo cirurgião chefe da equipe. Existem diversas indicações para a realização da histerectomia, mas todas estão relacionadas a uma doença no útero, o que, sempre justifica sua execução.

É interessante lembrar que quando falamos em histerectomia não estamos falando em "retirada dos ovários", nem tampouco das "trompas uterinas". Também seria conveniente citar que a principal função do útero é a de sediar a gestação, talvez por isso o útero esteja tão intimamente relacionado com a feminilidade no universo emocional feminino, por relacionar-se ao papel reprodutor da mulher. As mulheres costumam ver o útero como aspecto importante da feminilidade, de maneira que a sua perda se refletirá sobre o que elas percebem como sua capacidade de fêmea, incluindo o desejo sexual e a libido.

Com essa percepção, sofrem abalo em sua identidade feminina, porque para elas o útero simboliza a sua capacidade sexual. Com a retirada dele, a mulher passa a sentir-se diminuída, pois acredita estar incapacitada sexualmente para sentir prazer sexual.

Falamos agora a palavra mágica e a mais importante desse despretensioso e humilde "post": "prazer". O prazer sexual seria uma interação do sistema nervoso no ato sexual provocando intensos espasmos e contrações nos músculos. Mas isso é uma mera visão científica de um processo com estratégia evolutiva onde o prazer sexual estaria atuando como um motivador do ato sexual estimulando a reprodução (o grande objetivo) dando assim as espécies maior população e maior predominância sobre outras.

Num outro recorte entendemos o prazer sexual como um "estado de graça", uma resposta instantânea do psique frente ao exuberante "big bang" de sensações que ocorrem durante uma experiência sexual satisfatória. É nessa ótica que vamos entender as inter-relações entre o prazer sexual e a histerectomia no imaginário feminino.

As mulheres ocidentais, infelizmente ainda são criadas por suas famílias sob a égide da castidade eterna, vivenciam suas iniciais experiências na sexualidade com muito temor e ameaçadas pelo dualismo constantemente presente em sua criação: certo ou errado, o bem ou o mal, Deus ou o diabo e por aí vai. A palavra mais ouvida por essas nossas mulheres, quando ainda estão na tenra idade é, sem dúvida nenhuma, o NÃO; não mexa aí, não faça isso, não pode aquilo e, quando o assunto é algo ligado à sexualidade, nem se fala, a resposta é sempre a mesma NÃO!!!

Vivemos uma infância do "NÃO", da desinformação, da deseducação sexual, as famílias entendem, na sua grande maioria, que a competência da educação sexual cabe à escola e isso gera um "vácuo" no processo de educação sexual. Ninguém quer, ou pode, se responsabilizar pela educação sexual, um jogo de empurra onde deixar quieto é mais cómodo, assim como Renato Kehl esclarece bem sobre as dificuldades da educação sexual no século XX:

"Como se julga mal o mais sério ato da vida humana! 
Tem sido muito debatida a questão se se deve ou não revelar às 
crianças noções da vida sexual. A maioria dos educadores, psicólogos e 
médicos está de acordo sobre a utilidade deste ensino. As exceções 
contam-se apenas entre as pessoas que não estudaram ou não 
compreendem suficientemente sua alta finalidade, bem assim entre as que 
supõem que esta instrução deve compreender conselhos sobre doenças 
venéreas, o que representa um contra-senso em relação às crianças. 
Não mais se discutem as vantagens higiênicas e eugênicas da 
educação sexual. Elas são ultra-evidentes. Para avaliar o seu efeito 
profilático é necessário examinar a questão sem preconceitos, ‘fazendo 
tábula rasa de toda concepção hipócrita’ e mantendo o espírito preparado 
para um julgamento são." (KEHL, 1997, p.433)

As meninas crescem e se tornam mulheres, donas de casa, profissionais responsáveis, mães dedicadas, mas trazem consigo os tabus oriundos da sua criação familiar. Esses são os responsáveis por toda essa confusão relativa à retirada do útero; medo de ficar oca, ficar vazia, acreditar que o marido não vai mais desejá-la como antes, medo de perder a libido e tantas outras paranóias que rondam a cabeça dessas mulheres modernas.

Na verdade essas nossas mulheres vivenciam uma bela confusão emocional quando o assunto é a retirada do seu órgão reprodutor. Todo esse medo e insegurança não tem o menor sentido pois a retirada do útero não altera em nada o prazer sexual, muito pelo contrário, as pesquisas atuais revelam que o bem estar sexual melhora e muito a vida das mulheres após a histerectomia. As características individuais de cada mulher com sua história de vida, seus costumes e valores culturais, práticas familiares e aspectos da religiosidade serão o divisor de águas que determinará a intensidade do impacto emocional em sua vida sexual.


Pois bem, as mulheres que estão prestes ou já se submeteram a uma cirurgia de histerectomia sofrem com o fantasma da perda do prazer sexual, se lançam num abismo solitário de preocupações e dor, fantasiam um abandono e um distanciamento de sua sexualidade. Apenas as transformações no processo de educação sexual serão capazes de resignificar um futuro para essas novas mulheres que surgirão com o passar dos anos.

Seremos corajosos o suficiente para atuar como protagonistas nesse novo capítulo de nossa sociedade? 






3 comentários:

  1. "Realmente, tudo vai depender da cabeça. O sexo não começa no coito, mas na mente e o desejo sexual só não vai acontecer se a mulher assim pensar. Com 8 dias de histerectomia sub total, meus desejos afloraram, e só tive de me conter, afinal estou de resguardo. A felicidade não pode ser abalada, a menos que se queira. Bjs a todos os leitores."

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  2. Boa tarde
    Incrível como uma postagem desta não teve comentários. ...eu vivo isso neste momento. ..tenho 2 meses de histerectomia e o fantasma da sexualidade sempre rondando.
    Sempre fui uma mulher muito ligada ao sexo e sempre gostei muito. ..mas depois da histerectomia tenho tido insegura. ..Não sei se é de doer ou medo de não ser mais a mesma coisa....me angustia muito.


    Obrigada pela postagem.

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  3. simone não fique assim,fiz essa cirurgia ta com 8 anos e me sinto muito bem,tenho uma relação sexual otima .tire isso da sua cabeça,porque o desejo sexual não vem do utero e sim da cabeça e vc tem a sua né.esqueça isso e seja feliz.um abraço

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