sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Sadomasoquismo


           Vivemos uma reviravolta bem grande e muito interessante nas práticas sexuais da nossa sociedade do século XXI. Aparentemente abandonadas por muitos anos, muitas dessas práticas ressurgem do esquecimento coletivo e começam a fazer parte do cotidiano das famílias, dos casais e dos indivíduos que se relacionam eroticamente. O sadomasoquismo aparece nesse cenário contemporâneo como elemento plural, renovado, numa nova repaginação erótico-social, transitando livremente como o assunto do momento nas rodas mais "cults" das nossas cidades.

            Para os que não estão afinados com esse tema, que na verdade não é de muitos afinamentos, a prática do sadomasoquismo faz parte do que hoje chamamos de "sexualidades dissidentes", onde encontramos uma relação de poder na cama e fora dela: o dominante e outro dominado; um sádico (o que sente prazer em impor o sofrimento físico e moral de outra pessoa) e um masoquista (o que sente prazer em receber o sofrimento físico e moral de utra pessoa). Classificado como uma "parafilia" -(do grego παρά, para, "fora de",e φιλία, phillia, "amor") é um padrão de comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas em alguma outra atividadeconseguiu sobreviver na conserva das práticas sexuais abomináveis, mas que consegue mesclar interesse de muita gente boa por aí. Na década de 90 surge a sigla BDSM que justifica a junção de Bondage (escravidão e imobilização) & Disciplina, Dominação & Submissão, Sadismo & Masoquismo. A essas práticas somam-se algumas outras, tais como: fist-fucking (penetração do punho no ânus ou na vagina), fetichismo e a inversão de papéis (homens são penetrados por mulheres com um acessório tipo pênis artificial). 

           A nova onda do BDSM ganha as grandes cidades e a curiosidade de uma grande fatia da população. No S/M (sadomasoquismo) observamos que numa grande maioria das vezes o sexo "genitalizado" não é o elemento principal, que é substituido  por elementos de "controle e poder", com a utilização de jogos de prazer, prazer e dor em contextos consensuais. O BDSM se utiliza de dominação, submissão e dor num contexto de prazer e se realiza segundo o lema "são, seguro e consensual", baseando-se assim na confiança e no respeito mútuo.

          Nossas livrarias estão anunciando desde o mês de abril o lançamento no Brasil de um livro intitulado "Cinquenta Tons de Cinza", uma trilogia da autora britânica E.L. James que já chega na nossa terra Bazilles como um best- seller de vendas. Muito mal escrito e com personagens mal construídos, a trilogia apelidada de "mommy porn" (um pornô das mamães), pois o tema principal da trilogia é o Sadomasoquismo,  toma conta dos lares britânicos. Segundo Pollyana Dias do portal HD, o livro conta a história de uma garota de 22 anos, Anastasia Stelle, que está prestes a se formar na faculdade. A petulante jovem é virgem e, por um acaso do destino, conhece o empresário bilionário Christian Grey. Em pouco tempo os dois entram em um relacionamento estranho e embasado em um sadomasoquismo que deixa a protagonista perturbada – ela e os leitores que não são lá muito adeptos ao estilo de "fazer amor".

        O intimidante Sr. Grey, como Anastasia o chama, exige que ela seja submissa a ele. A explicação? O livro deixa claro que é apenas um jogo sensual, mas subentendido que o empresário teve uma vida recheada de traumas e, de certa forma, desconta seus momentos ruins nas mulheres que o acompanham, sob a desculpa de que quer dar prazer a elas. Para compensar, um jogo de morde e assopra... Ele as enche de presentes caros.

        Até aí, a história, para alguns, pode até parecer ser bem interessante. Mas todas as cenas de sexo que o casal compartilha são descritas com uma riqueza de detalhes que lembram bastante os filmes pornôs da década de 1980 (chatos, não é?). E são tantas as situações do tipo que a história mal se desenrola. E tem mais... para os adeptos ao feminismo ou opositores ao machismo, "50 Tons de Cinza" é um grande balde de água fria (com muito gelo).

       Segundo o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Publicado pela Associação Psiquiátrica Americana) IV, “as parafilias são caracterizadas por anseios, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que envolvem objetos, atividades ou situações incomuns e causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.”

       Nas cenas eróticas da prática de BDSM ou sadomasoquista, o corpo - e não apenas os órgãos genitais - é visto como fundamental em sua totalidade, pois aqui ele é amplamente erotizado. Os elementos de prazer se somam à utilização do próprio corpo como uma construção contínua e consequente - sua performance pode ser representada através de diversos desejos e fantasias. Utilizam-se acessórios como roupas de couro, chicotes, correntes, botas, cadeados, vendas e técnicas como amarração e fist fucking. Uma cena comum nas práticas S/M se revela com a mulher de salto alto, um micro lingerie, cabelo em coque e ajoelhada sobre milhos, sendo esbofeteada durante o sexo oral, com as mão presas às costas.

        Depois da invasão da grande onda do "swing" em nossas praias, agora temos urgência em nos prepararmos para essa avalanche plural do "Sadomasoquismo" e "BDSM" que prometem se estabelecer nos nossos lares e nos gostos e desgostos da nossa (des)estrutura erótico-social, ampliando os scripts e possibilitando o acesso da população a uma outra forma de prazer(?). Adeptos e críticos acabam dividindo as filas do cinema e as mesas dos bares, ninguém mantém uma placa no pescoço com a informação de sua preferência sexual, e nem saem na noite vestidos com roupas de couro apertadas com chicotes na mão. Pelo bem, pelo mal, o melhor é tomar muito cuidado para não se levar gato por lebre. Quem pode saber o rumo dessa história? Quem precisa saber o seu desfecho final? O que se sabe de verdade é que roupa de couro, chicotinhos e algemas já estão em falta nas lojas especializadas.

Um comentário:

  1. Archimedes você leu o livro? Eu acho que não!!! Concordo com você quando diz que o livro é mal escrito e que os personagens são mal construídos, mas não concordo com mil outras coisas... O Sr. Gray não desconta nas mulheres os horrores que viveu na infância com a desculpa de dar-lhes prazer. Ele simplesmente encontrou na relação sadomasoquista um modo de se relacionar com o sexo oposto! Eu acho, que o que realmente chamou atenção neste livro foi a fantasia que quase todas as mulheres tem de sofrer certos tipos de maus tratos durante o sexo. E até nisso a trilogia decepciona, pois da metade do segundo livro para lá eles se apaixonam e a história vira um grande romance barato.
    Creio que apesar de todos os defeitos imperdoáveis que a trilogia tem, ele suscita algumas questões que ainda hoje são vistos como um grande tabu pela nossa sociedade.
    E outra questão apresentada aqui no artigo é a questão da philia traduzida aqui como o amor,que é um termo carregado de uma concepção cristã sobre os sentimentos de afeto. Philia é melhor traduzido por amizade, tal como a sociedade antiga compreendia. Amor, assim como nós concebemos em nada tem relação com qualquer palavra grega. Porém a palavra que se distancia de philia é éros, da forma como Platão a define no Banquete.

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