Falar sobre as Parafilias Sexuais é, antes de mais nada, entender seu conceito semântico e político-social através dos tempos. Parafilia (do grego παρά, para, "fora de",e φιλία, phillia, "amor") é um padrão de comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas em alguma outra atividade. Esse termo foi usado nas classificações dos distúrbios psicossexuais no final do século XX sem conotação pejorativa ou moral.
Muitas conceituações foram usadas para esse termo "parafilia" e algumas são usadas até os dias de hoje como sinônimos:
1- Perversões Sexuais.
2- Desvios Sexuais.
3- Anomalias Sexuais.
4- Distúrbios Sexuais.
5- Comportamento Excepcional.
6- Preferências Sexuais.
7- Variantes Sexuais.
Na verdade, durante a evolução da nossa sociedade muitos desses termos assumiram uma personalidade própria com significados distintos de "parafilia". Em consulta ao Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV), encontramos que as parafilias (gosto pelo acessório) são caracterizadas por anseios, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que envolvem objetos, atividades ou situações incomuns e causam sofrimento ou prejuízo na vida do indivíduo. As principais parafilias, segundo o DSM-IV, são: exibicionismo (exposição dos genitais), fetichismo (uso de objetos inanimados), frotteurismo (tocar e esfregar-se em uma pessoa sem o seu consentimento), pedofilia (foco em crianças pré-púberes), masoquismo sexual (ser humilhado ou sofrer), sadismo sexual (infligir humilhação ou sofrimento), fetichismo transvéstico (vestir-se com roupas do sexo oposto) e voyeurismo (observar atividades sexuais).
As parafilias podem ser tratadas como resultado de uma criação cultural, que varia de época em época e de cultura em cultura, segundo os ambientes sociais sejam mais ou menos repressores da sexualidade humana. É claro que existam limites e exceções, mas por outro lado, tratá-las de forma anacrônica como essencialmente, exclusivamente uma psicopatologia, já não encontra mais amparo acadêmico. Se analisarmos a linha do tempo da nossa civilização, encontraremos inúmeras atividades que hoje podem ser consideradas como uma transgressão, um abuso, um ato abominável, uma infração das leis, um comportamento moralmente incorreto, uma parafilia sexual, mas que na época não representava nenhuma patologia.
As parafilias podem ser tratadas como resultado de uma criação cultural, que varia de época em época e de cultura em cultura, segundo os ambientes sociais sejam mais ou menos repressores da sexualidade humana. É claro que existam limites e exceções, mas por outro lado, tratá-las de forma anacrônica como essencialmente, exclusivamente uma psicopatologia, já não encontra mais amparo acadêmico. Se analisarmos a linha do tempo da nossa civilização, encontraremos inúmeras atividades que hoje podem ser consideradas como uma transgressão, um abuso, um ato abominável, uma infração das leis, um comportamento moralmente incorreto, uma parafilia sexual, mas que na época não representava nenhuma patologia.
Entre as parafilias sem outra especificação, localizamos: zoofilia (ato sexual com animais); necrofilia (cadáveres); escatologia telefônica (telefonemas obscenos); parcialismo (foco exclusivo em uma parte do corpo); coprofilia ou excrementofília (obtenção de prazer durante a evacuação das fezes ou com a sua manipulação); clismafília (prazer obtido com a aplicação de líquidos dentro do reto, através do ânus ou introdução de objetos estranhos); urofilia (prazer e excitação sexual obtido com o contato pelo corpo ou ingestão de urina); cunilíngua (ato de praticar sexo oral aplicando a língua na vulva e/ou clitóris); felação (sexo oral feito no genital masculino); anilíngua ou anilingus (significa literalmente o intercurso da língua de alguém com o ânus de outrem); dendrofília (relação sexual com plantas ou frutas); acrotomofilia (preferência sexual por pessoas que tenham alguma parte de seus corpos amputada); erotofonofilia (a excitação ocorre com a possibilidade de matar o companheiro, coincidindo essa morte com o próprio orgasmo); gerontofília (atração sexual por pessoas idosas) entre muitos outros.
A pedofilia, por exemplo, é caracterizada por um forte desejo alimentado por fantasias e práticas sexuais com crianças pré-púberes. Alguns pedófilos limitam suas atividades a despir e observar a criança exibir-se, masturbar-se ou tocá-la. Outros realizam felação, penetração da vagina, boca ou ânus da criança com seus dedos, objetos estranhos ou pênis. As pessoas que se utilizam dessas práticas transgressoras tentam justificá-las afirmando que possuem “valor educativo” para a criança, ou de que a criança pode obter “prazer sexual” com os atos praticados. Enquanto a pedofilia envolve atividades sexuais com crianças pré-púberes de ambos os sexos, a pederastia é o contato sexual entre um homem de idade e um rapaz bem jovem (adolescentes masculinos).
O exibicionismo é uma forma de excitação erótica que envolve a exposição dos próprios genitais a um estranho a fim de excitar-se sexualmente. Às vezes, o indivíduo pode se masturbar durante a exposição para, casualmente, atingir o orgasmo. Geralmente, não existe qualquer tentativa de atividade sexual com o estranho. A excitação provém da exposição do corpo, ou parte dele, para um outro.
O voyeurismo envolve o ato de olhar indivíduos, comumente estranhos, sem suspeitar que estejam sendo observados, que estão nus, a se despirem ou em atividade sexual. O ato de observar serve à finalidade de obter excitação sexual, e habitualmente não é tentada qualquer atividade sexual com a pessoa observada.
O sadismo e o masoquismo já falamos bastante no nosso outro post - O Sadomasoquismo - entretanto resumidamente o sadismo sexual consiste em praticar atos nos quais o indivíduo fica excitado com o sofrimento psicológico ou físico da vítima. O Sádico age segundo seus anseios sexuais sádicos com um parceiro que consente ou não em sofrer dor ou humilhação. As fantasias ou atos sádicos podem envolver atividades como: atar, espancar, chicotear, queimar, administrar choques elétricos, estuprar, esfaquear, estrangular, torturar, mutilar ou mesmo matar suas vítimas. Nos dias de hoje, como vimos no outro post, os BDSM ou sadomasoquistas mais modernos utilizam de um contrato conceitual e até mesmo por escrito com seus parceiros(as) para que as práticas sejam utilizadas consensualmente.
No masoquismo sexual, encontramos o ato de ser humilhado, espancado, atado ou submetido a qualquer tipo de sofrimento. Uma prática perigosa, nesse estilo transgressor é a asfixiofilia ou hipoxifilia, na qual a pessoa tenta intensificar o estímulo sexual pela privação de oxigênio. Essa excitação sexual pela privação de oxigênio pode ser obtida por meio de compressão torácica, garrotes, ataduras, sufocação com saco plástico, máscara ou substância química, podendo ocorrer mortes acidentais.
Talvez a grande revelação de, o livro, "50 tons de cinza" estar causando tanta confusão no nosso meio social, esteja justificado ao tratar do assunto "sadomasoquismo" disfarçado em um encontro pseudo-romântico, criando a oportunidade ideal e essencial para que afetasse a maioria do sentimento feminino, o que, o nosso grande "Sigmund Freud" já descrevia no século passado como uma "fantasia original", ou fundamental, e recalcada, que é masoquista e que serve de base para as outras duas etapas de desenvolvimento da fantasia de espancamento. Descreve o estreito vínculo entre as tendências masoquistas e a sexualidade, tomando em conta os efeitos erógenos da dor. Nesse sentido, Freud faz do par sadismo/masoquismo a expressão mais eloquente da erotização da pulsão de morte, ou seja, a fusão das duas pulsões. A erotização da dor entra nessa fusão e muito provavelmente o perverso, atento a um prazer determinado, pode confundir o desejo com a dor. Talvez é nesse sentido plural, onde o poder e controle possa atuar juntamente com um toque de transgressão e, até mesmo, com uma certa dose de submissão que tenha impressionado o "lúdico" de tantas mulheres que continuam lendo a trilogia.
No fetichismo, encontramos o uso de objetos - "fetiches", tais como: calcinhas, meias, sapatos ou outras peças do vestuário feminino, fantasias masculinas ou femininas de policial, bombeiro, secretária, professora, etc. O fetichista frequentemente se masturba, enquanto segura, esfrega ou cheira o objeto do fetiche, ou pede que seu parceiro use-o durante seus encontros sexuais.
Segundo a psicóloga Rosa Maria S. dos Santos (2007), citando Freud, "o fetiche é um substituto do pênis; o pênis da mulher (mãe) em que o menino outrora acreditou, e que por razões lhe são familiares, não deseja abandonar" (Freud, 1910). O que aconteceu, portanto, foi que o menino se recusou a tomar conhecimento de que a mulher (mãe) não tem pênis. E se isso fosse verdade, então seu próprio pênis estaria em perigo e este pênis é extremamente importante nesta infância. E o "...horror da castração ergue um monumento a si próprio na criação desse substituto." (Freud,1910). Então o fetiche é o substituto, contudo, ele não substitui o pênis, mas a sua falta. É nesse sentido que ele é um "monumento" à castração.
Falar de "fetichismo" nos leva a pesquisar a relação da "perversão" com essas transgressões parafílicas. O texto abaixo foi retirado do artigo "As diferenças que nos constituem e as perversões que nos diferenciam" da psicanalista Mercês Muribeca, 2009.
A perversão está relacionada à sexualidade, pois diz respeito a práticas sexuais que extrapolam o objetivo do coito. Nesses casos, o orgasmo é obtido através de práticas ou objetos desviantes do normal, sendo as perversões o resultado do desenvolvimento da pulsão sexual em zonas erógenas distintas dos genitais.
Em Vocabulário da Psicanálise, Laplanche e Pontalis (1992, p. 341) definem perversão como sendo o:
Desvio em relação ao ato sexual normal, definido este como coito que visa a obtenção do orgasmo por penetração genital, com uma pessoa do sexo oposto. Diz-se haver perversão: onde o orgasmo é alcançado com outros objetos sexuais ou através de outras regiões do corpo onde o orgasmo acha-se totalmente subordinado a certas condições extrínsecas, que podem mesmo ser suficientes, em si mesmas, para ocasionar prazer sexual. Num sentido mais abrangente, perversão tem a conotação da totalidade do comportamento psicossexual que acompanha tais meios atípicos de obter-se prazer sexual.
Corroborando o pensamento freudiano, os autores do Vocabulário (p. 342) afirmam que, em psicanálise, só se deve falar de perversão a respeito da sexualidade quando definem:
Freud, em sua 21ª conferência, O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais (1933[1974 ], p. 376), enfatiza que:
Seria, então, o perverso uma espécie de feiticeiro da realidade? Realidade que ele não tolera e, por carregar consigo o germe da onipotência infantil, tenta alterá-la construindo um mundo indiferenciado, onde ele e a mãe são unos, todos os poderes emanam dele e a realidade é aquilo que ele fabrica?
Pois bem, não é qualquer realidade que o perverso não tolera, ele distorce tudo aquilo que pode confrontá-lo com a castração, por causa da própria angústia de castração.
Se a perversão está claramente delineada como uma condição intrínseca à sexualidade humana, existiria perversão em termos de patologia? O que Freud ressalta como patológico e aberração incontestável no que se refere à sexualidade, é a utilização de pessoas sexualmente imaturas (crianças) e criaturas indefesas (animais), como objetos sexuais. Os desvios perversos, típicos da sexualidade humana, poderiam ser considerados como sintoma patológico a partir do momento em que se configurassem como fixação, ou seja, o indivíduo passa a apresentar uma limitação do prazer à determinada prática perversa, ocorrendo a substituição das práticas normais.
Recentemente, Roudinesco (2008, p. 13) afirmou que “os perversos são uma parte de nós mesmos, uma parte de nossa humanidade, pois exibem o que não cessamos de dissimular: nossa própria negatividade, a parte obscura de nós mesmos”.
Acho que esse assunto merece um outro "post", só dele, exclusivamente dele, mas os nossos entendimentos sobre as parafilias merecem uma resignificação enquanto freqiuentadores de um mundo novo, sem restrições, sem discriminação, um novo tempo que aceita as diversidades, um mundo plural, temos que nos posicionar à luz das diferenças
Falar de "fetichismo" nos leva a pesquisar a relação da "perversão" com essas transgressões parafílicas. O texto abaixo foi retirado do artigo "As diferenças que nos constituem e as perversões que nos diferenciam" da psicanalista Mercês Muribeca, 2009.
A perversão está relacionada à sexualidade, pois diz respeito a práticas sexuais que extrapolam o objetivo do coito. Nesses casos, o orgasmo é obtido através de práticas ou objetos desviantes do normal, sendo as perversões o resultado do desenvolvimento da pulsão sexual em zonas erógenas distintas dos genitais.
Em Vocabulário da Psicanálise, Laplanche e Pontalis (1992, p. 341) definem perversão como sendo o:
Desvio em relação ao ato sexual normal, definido este como coito que visa a obtenção do orgasmo por penetração genital, com uma pessoa do sexo oposto. Diz-se haver perversão: onde o orgasmo é alcançado com outros objetos sexuais ou através de outras regiões do corpo onde o orgasmo acha-se totalmente subordinado a certas condições extrínsecas, que podem mesmo ser suficientes, em si mesmas, para ocasionar prazer sexual. Num sentido mais abrangente, perversão tem a conotação da totalidade do comportamento psicossexual que acompanha tais meios atípicos de obter-se prazer sexual.
Corroborando o pensamento freudiano, os autores do Vocabulário (p. 342) afirmam que, em psicanálise, só se deve falar de perversão a respeito da sexualidade quando definem:
[...] a sexualidade humana como sendo, no fundo, perversa, na medida em que nunca se desliga inteiramente de suas origens, que a fazem procurar sua satisfação não numa atividade especifica, mas no ganho de prazer ligado a funções ou atividades que dependem de outras pulsões.Em Vida e Morte em Psicanálise, Laplanche (1985) lembra que Freud, nos Três Ensaios, descreve a pulsão por excelência, que é a pulsão sexual. É a sexualidade que representa o modelo de toda pulsão e é, provavelmente, a única pulsão propriamente dita. É bom ressaltar que a sexualidade humana é sempre uma psicossexualidade. Ou seja, o ser humano, como ser desejante, atribui sentido ao sexo e subverte a natureza, que impõe padrões fixos para o sexo dos animais, possibilitando vários destinos para a pulsão e tornando a sua satisfação uma escolha tanto em relação ao objeto, quanto ao próprio objetivo pulsional.
Freud, em sua 21ª conferência, O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais (1933[1974 ], p. 376), enfatiza que:
O que torna a atividade dos pervertidos tão inconfundivelmente sexual, por mais estranhos que sejam seus objetos e fins, é o fato de, via de regra, um ato de satisfação pervertida ainda assim terminar em orgasmo completo e emissão de produtos genitais.Em uma passagem dos Três Ensaios (1905[1974 ], p. 151), Freud confessa que, às vezes, nas mais variáveis formas de perversões, a qualidade do novo alvo sexual é de tal ordem que requer uma apreciação especial. Vejamos o que ele disse a esse respeito:
Algumas delas afastam-se tanto do normal em seu conteúdo que não podemos deixar de declará-las “patológicas”, sobretudo nos casos em que a pulsão sexual realiza obras assombrosas (lamber excrementos, abusar de cadáveres) na superação das resistências (vergonha, asco, horror ou dor). Nem mesmo nesses casos, porém, pode-se ter uma expectativa certeira de que em seus autores se revelem regularmente pessoas com outras anormalidades graves ou doentes mentais. Tampouco nesses casos pode-se passar por cima do fato de que pessoas cuja conduta é normal em outros aspectos colocam-se como doentes apenas no campo da vida sexual, sob o domínio da mais irrefreável de todas as pulsões. Por outro lado, a anormalidade manifesta nas outras relações da vida costuma mostrar invariavelmente um fundo de conduta sexual anormal.O perverso, então, seria aquele que se empenha em destruir a lei, para depois reconhecer dolorosamente que ela é permanente? Poderíamos pensar que o perverso seria alguém empenhado em distorcer, mesclar, triturar, liquefazer, metamorfosear, de tal maneira a origem das coisas, que, ao final desse processo caótico, nada mais pudesse ser distinguido?
Seria, então, o perverso uma espécie de feiticeiro da realidade? Realidade que ele não tolera e, por carregar consigo o germe da onipotência infantil, tenta alterá-la construindo um mundo indiferenciado, onde ele e a mãe são unos, todos os poderes emanam dele e a realidade é aquilo que ele fabrica?
Pois bem, não é qualquer realidade que o perverso não tolera, ele distorce tudo aquilo que pode confrontá-lo com a castração, por causa da própria angústia de castração.
Se a perversão está claramente delineada como uma condição intrínseca à sexualidade humana, existiria perversão em termos de patologia? O que Freud ressalta como patológico e aberração incontestável no que se refere à sexualidade, é a utilização de pessoas sexualmente imaturas (crianças) e criaturas indefesas (animais), como objetos sexuais. Os desvios perversos, típicos da sexualidade humana, poderiam ser considerados como sintoma patológico a partir do momento em que se configurassem como fixação, ou seja, o indivíduo passa a apresentar uma limitação do prazer à determinada prática perversa, ocorrendo a substituição das práticas normais.
Recentemente, Roudinesco (2008, p. 13) afirmou que “os perversos são uma parte de nós mesmos, uma parte de nossa humanidade, pois exibem o que não cessamos de dissimular: nossa própria negatividade, a parte obscura de nós mesmos”.
Acho que esse assunto merece um outro "post", só dele, exclusivamente dele, mas os nossos entendimentos sobre as parafilias merecem uma resignificação enquanto freqiuentadores de um mundo novo, sem restrições, sem discriminação, um novo tempo que aceita as diversidades, um mundo plural, temos que nos posicionar à luz das diferenças